terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Santa Helena - Rumo de casa

Exatamente 7 dias foi o tempo entre nossa chegada e nossa saída desta ilha perdida no meio do Oceano Atlântico, claro a maior parte do tempo gasta em trabalho de reparações e preparo do Tutatis para a última etapa da viagem.
Tentei de todas as formas trazer a vida a geladeira, que tanta bateria comeu nesses anos de viagem, mas foi impossível. O design do sistema, as dificuldades em encontrar componentes eletrônicos, e a burocracia sistemática do departamento de vendas ou atendimento ao cliente do fabricante em Joinville, culminaram com nosso insucesso em fazê-la funcionar novamente a despeito do esforço de nosso novo amigo Colin - técnico em eletrônica da ilha, que não mediu esforços em nos ajudar.
Agora a realidade é encarar essas 3 ou 4 semanas de travessia sem o conforto e a praticidade de alimentos frescos.
Interessante a dependência que criamos dum equipamento tão discreto como este em nossas vidas. Um bom exercício para quem nos acompanha no blog é ir ao supermercado para provisionar suas casas, e imaginar que quando escolherem os produtos para colocar no carrinho de compras, devem levar em conta que não há geladeira para guardá-los. Vão ver como as opções diminuem, e a vida fica difícil.
Tirando as dificuldades de lado, a permanência da ilha, foi uma grata surpresa.
Incrível como uma comunidade de 5000 habitantes espalhados por 120 km2, se organizam e vivem em harmonia uns com os outros. Acolhem nós turistas de forma simpática e respeitosa, fazendo-nos sentir em casa. Impossível não notar a forma como se relacionam. Todos se conhecem, se cumprimentam sempre. A prestatividade é notável.
A ilha em sua periferia é Arida, fruto da agressividade dos ventos e a maresia que castiga a costa dia e noite. Fora isso a formação vulcânica da ilha, em constante erosão, torna a costa morta.
No entanto quando excursionamos ilha a dentro (alugamos um carro para isso), nossos olhos se surpreendem com a generosidade do verde das matas e dos gramados naturais. Percorrer as estradas sinuosas e estreitas é algo emocionante, pelo eminente perigo de um encontro com outro carro em sentido contrario. Porém tudo isto é compensado com o magnífico visual dos contornos da topografia dobrada, com o fundo azul em degrade do mar.
Conhecemos um hotel fazenda e pudemos desfrutar de um almoço na varanda observado o belo visual das bem cuidadas instalações centenárias. Dentro do casarão, relíquias de móveis que foram utilizados por Napoleão Bonaparte. O proprietário foi quem nos atendeu e ele mesmo preparou e serviu nossa refeição - um britânico que cansou de trabalhar a bordo de navios como chefe de comissários ( educadíssimo por sinal).
Tivemos a oportunidade de conhecer as casas onde Napoleão ficou hospedado (exilado), e o túmulo onde ele foi enterrado. Tudo (bem) mantido pelo governo Frances.
A vila principal da ilha é JamesTown, que fica incrustada num vale entre duas grandes montanhas e exprimida pelo mar.
Muitas histórias da ilhas, muita gente importante la esteve como: Darwin, Cook, Napoleão, Princesa Ane e mais uma infinidade de nomes.
Mais história da ilha, melhor pesquisar na web, que certamente não cometera equívocos que posso estar cometendo escrevendo enquanto navegamos rumo ao Brasil.
Dia 7/02 as 11:30 UTC, levantamos nossa ancora de Santa Helena, e bem de vagar passamos ao lado de nossos amigos que la ficaram: O Pacha Mama (Top To Top), O Nephente, O Little coconut...
Um clima de melancolia e tristeza da despedida de nossa ultima ilha e nossos amigos que continuam suas viagens se confundiu com a alegria de estarmos rumando ao encontro de nossas famílias.
Subimos nossas velas e motoramos por quase uma hora, saindo fora do efeito que vento faz a sotavento das montanhas.
Assim que livramos Santa Helena os alísios entraram com generosos 15 kts, bem em nosso traves esquerdo, numa navegação bem confortável a 7 kt.
Nosso rumo é direto até Guaratuba, e esperamos tempo bom até a costa brasileira na altura de Campos (estado do Rio). Deveremos passar a costa carioca e paulista afastados 300 milhas ou mais, rumo a nosso destino.
Mais próximos do continente iremos ver como as frentes frias estarão se comportando para quem sabe mudarmos nossa estratégia.
Serão 2450 nm (quase 4500 kilometros).
Nossa expectativa é fazermos a travessia entre 19 e 21 dias.
Nossa posição em 07/02/2012 as 17:35 UTC 16 07 S / 006 19 W
Tudo bem a bordo.

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