sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Faltam 1854 km...

Logo depois de eu ter atualizado o blog, Murphy atacou novamente.
Estava tudo tão bem, tempo bom, boa velejada, astral alto, o motor quando necessário parecia um reloginho suiço e etc.. apenas o peixe escaço.
Como eu ia dizendo, estava tudo bem, com as duas linhas na água na tentativa de fisgar nossa proteina, funcionamos o motor para carregar as baterias e fazer um pouco de agua. O piloto automático desacoplou quando estavamos longe dos comandos e o barco fez um "jaibe" (curva brusca) de 180 graus quase. Adivinhe.. as linhas foram parar em baixo do barco!
Até chegarmos aos comandos e desligarmos o motor, já era tarde.
Elas se enrolaram no hélice.
Eu sabia que tinhamos um problema agora, só não sabia se era grave.
O vento estava forte, e o mar um pouco alto (2.3 m), e achei melhor não arriscar entrar na agua para averiguar e esperar uma condição melhor.
A tardinha, o vento acalmou e o mar cedeu um pouquinho, "capeamos" o barco e entrei na agua de faca em punho.
Gastei mais de meia hora e pelo menos uns vinte mergulhos, com o barco batendo em minha cabeça, nadando contra a correnteza e admito com receio que um tubarãozinho faminto aparecesse. Removi muita linha, mas constatei que um anel solido de nylon se formou pelo atrito e tensão, travando o hélice. Fiz o que pude, mas não consegui remover.
Ainda bem que fomos agraciados com a melhor e mais bonita noite da travessia. Ventos favoráveis, mar tranquilo e nada de chuva.
Metade da noite passei pensando num plano de remover o anel que nos impedia usar o motor, que certamente seria necessário mais a frente pela previsão (confirmada algumas horas depois) de total falta de vento.
Por volta de meio dia de ontem o vento acalmou e o mar também.
Planejei mergulhar de aqualung desta vez, com ferramentas mais apropriadas.
Serra de metal, formão, marreta e alicate minhas armas.
Meia hora depois, muitas cabeçadas no barco e alguns cortes nas mãos estavamos livres novamente.
Removi algumas dezenas de metros de nylon, e mais dois anéis sólidos (postarei a foto no blog após a chegada).
Minha preocupaçao agora é verificar constantemente o óleo da rabeta, que pode sofrer de contaminação de agua salgada com a possível fissura do anel de vedação que foi pressionado pelos anéis da linha de nylon.
Desde ontem após isto, estamos motorando pela total de falta de vento e chuvas intermitentes, até agora.
O dia "promete" hoje ser a mesma coisa das últimas 12 horas... nada de vento e muita chuva. Provavelmente esse comportamento do tempo é pela transição do final dos ventos alíseos e o início da influência do continente brasileiro no movimento das massas de ar.
Em compensação a toda esta mão de obra e mais a perda de duas linhas e as duas melhores iscas que tinhamos, não pescamos nada.
Fiz uma nova linhada, e desde ontem esta na agua novamente, mas, nada de peixe.
Passamos a lateral de Trindade e Martin Vaz, uma das ilhas oceanicas brasileiras. Tinhamos até vontade de conhecer, mas tudo que lemos a respeito das ilhas, falam da inexistência de ancoragem segura. Pra ir lá e ficar babando de vontade de mergulhar e não poder parar... achamos melhor nem ver e seguir direto.
Esperamos melhores condições de tempo e vento a partir de domingo.

Nossa posição em 17/02/2012 as 12:09 UTC, 23 14 S / 030 19 W

Tudo bem a bordo,

Z

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