sábado, 9 de abril de 2011

Mooloolaba / Fraser Island

Ultimo dia de Marina é bem parecido sempre. Agitação de provisionamento, água, combustível. Resolvemos deixar a marina na véspera de partirmos, para economizarmos uma diária e nos dirigimos até o ancoradouro próximo onde segundo um amigo, era "fácil e com profundidade boa". Claro que foi só soltarmos os cabos da marina e entrou um ventinho de 24 kt e chuva, pra ajudar na tentativa de ancoragem. A facilidade e profundidade que nosso amigo reportou, quase transformou nossa ida num encalhe vexatório. Voltamos pra marina rapidinho, e nos amarramos a ela novamente. Dia seguinte, bem cedo zarpamos. O mar e o vento, mostraram que não estavam com humor muito bom. Chuva fina, vento de 20 kt pra inicio de manhã e um mar confuso com swell da direita de até 3 metros, e ondas e marolas que vinham da esquerda (provavelmente do swell que reverberava na costa e voltava). Desconforto total em todas as quase 60 milhas até a enseada de Wide Bay, próxima a entrada do canal de Fraser Island. Ancoramos ja no final do dia. Mas, ancorados tínhamos a sensação de estarmos navegando, tamanha agitação pelo swell e vento. Conseguimos tirar um cochilo mesmo assim, mas por volta de 23 horas, recebemos um chamado de um barco australiano que conhecemos em Mooloolaba, que nos informou que tinha entrado na barra e que as condições apesar de marginais, a profundidade era boa. Resolví que ficarmos ali, seria noite jogada fora. Levantamos ancora, depois de estudarmos bem a entrada e combinarmos exatamente como seria a passagem. Não tenho muita coisa pra elogiar os Australianos ultimamente, mas não posso deixar de observar como são confiáveis as sinalizações dos canais por aqui. Lembram muito o sistema de docagem (quando encostamos os aviões nos fingers dos aeroportos) que usamos na aviação. Apesar da precisão, foi pura adrenalina, pois o vento chegou a 28 kt, e as ondas enormes, entravam pela popa, fazendo o Tutatis surfar. Eu não vi muita coisa, pois estava muito focado nas luzes e nas informações do plotter/gps pra perceber qualquer outra coisa. Sentia minhas pernas molhadas a toda hora - A Sandra me contou depois, que eram as ondas que estouravam na popa do barco e parte delas entravam no cockpit. Eu sentia o barco deslizar e as luzes sumirem de vez em quando também.. claro.. o Tutatis entrava dentro do cavado entre uma e outra onda, e la em baixo a gente não via nada exceto e escuro do paredão de agua a nossa frente. Emocionante! Depois, dentro do canal, ja com menos adrenalina, pudemos conversar e trocar idéias sobre o que passamos. Encontramos uma ancoragem logo na entrada do canal, jogamos a ancora e dormimos. Dia seguinte cedo, saímos navegando pelos canais entre o continente e Fraser Island, pois queremos chegar o mais longe possível para entrarmos novamente em mar aberto com destino as ilhas da barreira de coral. A navegação pelos canais lembram nossa paisagem caiçara dos mangues da baia de São Francisco e de Paranaguá. Os mesmos cuidados temos que ter também com relação a maré ( a correnteza chega a 3 kt em certos pontos ), e também com os baixios que mudam de lugar com o passar do tempo e as cartas, claro não se atualizam na mesma velocidade. Assim… diferente da tensão de navegar com mar grande e vento forte, dentro dos canais a tensão é de tocar o fundo do barco a qualquer instante em certos pontos. FInal do dia, alias lindo final de dia, tudo calmo, ancoramos num lugar lindo, onde lembrando frase de minha maninha querida, dava pra "ouvir" o silencio de tão quieto. Ficamos no convés algum tempo observando as estrelas, a lua que estava se pondo… nessas horas vejo que somos privilegiados. Daqui seguiremos direto para a primeira ilha da barreira de corais - Lady Musgrade. Z

2 comentários:

polaca disse...

Maninho querido,
Que bom que lembrou de mim, num lugar tão especial.
Curta muito estes momentos de comunhão com Deus e a Natureza, pois tenha certeza que te acompanharão pelos resto de sua vida.
Já se passaram quase 30 anos da minha viagem de veleiro, e ainda fecho os olhos e "vejo" a lua nascendo cheia, e os golfinhos nadando em volta do veleiro.

polaca disse...

Ai, espero que meu comentário dessa vez tenha ido...